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Análise de Desempenho no Futebol

  • Foto do escritor: Túlio Flôres
    Túlio Flôres
  • 2 de dez. de 2014
  • 6 min de leitura

Análise de Desempenho no Futebol


Roberto Ribas, graduado pela Escola de Educação Física da Universidade Federal do Rio Grande do Sul em 2008, pós graduado em Atividade Física Adaptada FADE-UP - Porto - 2009 e Mestre em Treino de Alto Rendimento Desportivo FADE-UP Porto - 2011. Analista de Desempenho aplicado ao futebol com passagens pelas categorias de base do E.C. Internacional e no profissional do Grêmio Foot-Ball Porto Alegrense e E.C. Juventude. Profissional do mais alto gabarito e busca a todo o momento novos conhecimentos, e o mais importante, os aplica no dia a dia do seu trabalho.


Por Roberto Ribas

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Após o pedido do meu amigo e ex-monitor de faculdade, Túlio Flores, venho aqui para falar um pouco de futebol, mais especificamente de Análise de Desempenho e busca de evolução/conhecimento do esporte.


A profissão é antiga em outros esportes, principalmente os americanos, mas recentemente o Analista tem passado a integrar os grupos de apoio em equipes de futebol. Uma função que preconiza antes de qualquer coisa o conhecimento tático do jogo e a capacidade de interpretação de dados.


No passado quem exercia tal função de observação de adversários e (re) avaliação da própria equipe era o auxiliar direto do treinador, hoje com cada detalhe necessitando ser o mais específico possível, se criou este profissional que nada mais faz do que sintetizar a informação e com isso tentar otimizar o tempo cada vez mais escasso do treinador de futebol. É quase impossível imaginar um treinador que joga quarta e domingo no Brasil ter que observar os últimos dois os três jogos do próximo adversário, além de rever seu jogo e planejar treinamentos, talvez se isso ocorresse o dia teria que ter 40 horas.


Como na área da preparação física / fisiologia, o evento jogo gera muitos dados e interpretações, por isso em minha opinião, o analista deve ser capaz de decidir quais informações são de extrema importância e a comissão técnica deve estar a par e o que é secundário. Obviamente isso depende de cada treinador, cada um vai querer saber detalhes específicos dos oponentes e essa troca de informações só se torna eficaz com o tempo de trabalho.


A grande pergunta é: O que é preciso para se tornar um Analista? A verdade é que pessoalmente eu não sei. Talvez seja o mesmo que necessite um treinador. Estudo, experiência e prática, quem sabe. Onde e como conseguir isso é outra história. Apesar de ser formado, pós-graduado e possuir mestrado na área do treino esportivo, não costumo comprar a briga de que para trabalhar no futebol se deve possuir diploma em Educação Física, pois seguramente na faculdade não aprendi nada de futebol. Aprendi sobre outras coisas como metodologias de treino, periodização de treinamentos, um pouco de psicologia e etc., mas de futebol garanto que o conhecimento adquirido foi pequeno quando comparado o que aprendi na prática, e creio que isso ocorre em todos esportes (Phil Jackson é formado em Artes e foi campeão só 11 vezes da NBA) e talvez todas as profissões, pois tenho certeza que quem acaba a faculdade de economia não sai pronto para ser gerente de um banco, acredito que tudo é questão de vivência e experiência, sem nunca esquecer obviamente o conhecimento teórico. Já em cursos específicos, pós faculdade o conhecimento que me foi passado foi diferenciado, isso porque busquei conhecimento em outros locais.


Infelizmente no Brasil não possuímos um centro de estudo que produza conhecimento científico de futebol e as publicações de artigos “científicos” e livros são quase escassos. Não tive a oportunidade de visitar ainda, mas acredito que talvez na Universidade de Viçosa, com o PhD Israel Teoldo e colaboradores, isso possa mudar. Livros como: A História do Garrincha, Clássicos Fla-Flu, Pedro Ernesto Denardim e as Copas em que trabalhou, sinceramente não contribuem para nada com o desenvolvimento técnico do nosso profissional que trabalha com futebol.


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Recentemente uma enxurrada de bibliografia portuguesa “invadiu” o Brasil, com novos livros e novas abordagens para determinados assuntos. Isso nos mostra que apesar de ser um país com pouco mais que 10 milhões de habitantes, eles são capazes de ter uma produção literária maior que a do “país do futebol”. O que pra mim é inadmissível, mas creio que continuamos achando que não precisamos evoluir em nada, pois somos cinco vezes campeões do mundo. Se acredito ou não na metodologia deles, isso é outro assunto que talvez seja convidado pelo Túlio para abordar em outro tema. O fato é que eles produzem e nós não. Resumindo é isso.


Refletindo agora o que o analista deve ser capaz de transmitir para o treinador, acredito que tudo de tudo, ou o que ele desejar saber a qualquer momento. Obviamente questões como sistema de jogo e posicionamento são questões quase que básicas. Se até repórteres e jornalistas que nunca leram um livro de futebol (pois eles não existem no Brasil) conseguem interpretar isso, o analista deve ser capaz de traduzir outros conhecimentos.


O profissional que analisa jogos deve ser capaz de distinguir comportamentos coletivos e individuais. Saber o que acontece por acaso (no Brasil infelizmente muito) e o que é realmente treinado. Quando, onde e porque cada detalhe acontece e como se comportar em cada situação. Identificar parâmetros em cada momento do jogo e transmitir isso para que o treinador possa decidir que atitudes tomar para solucionar cada um desses detalhes. O fornecimento de informação deve ser dado sempre com máxima antecedência possível, visto que a comissão deve estudar o material e com isso TREINAR o que for identificado como possíveis abordagens. Digo isso porque todos sabemos que muitos treinadores recebem a informação e com isso acham que está tudo certo. Acredito que informação sem treino, não serve para quase nada.


Quando considerado apoio, o analista deve passar a informação sem julgar o que é o certo e o que é errado, isso quem decide é o treinador, a informação deve ser apenas entregue. Sendo parte da comissão técnica do treinador ou tendo liberdade com o mesmo, o analista pode e deve participar do processo pós-análise, ou seja, construir o treino para que a equipe seja capaz de sobrepor os pontos fracos do adversário e impedir que os pontos fortes do oponente se tornem vantagens.


Os que me conhecem mais de perto, sabem que passo o dia todo assistindo, lendo ou buscando informação sobre vários esportes e talvez por isso cada vez mais venho olhando o futebol de uma forma diferente.


Enquanto analista, gosto de fazer comparações. Porque na Europa se defende zona e no Brasil se marca individual? Essa é uma grande questão que gostaria de entender. Porque lá eles encurtam o campo, tirando espaço do adversário para jogar e aqui muito gente interpreta isso como linha de impedimento? Porque lá a amplitude lateral é imensa em alguns times, abrindo espaços na defesa adversária e aqui parece que nada disso ocorre? Creio que isso tudo é um problema que não iremos solucionar em curto prazo, pois a mudança deve vir de baixo, o atleta que chega ao profissional sem princípios e conceitos bem estabelecidos, pode até reproduzir por um breve momento algumas situações, mas seguramente na hora do “desespero”, vai voltar a fazer o que se sente confortável. Ou colocamos pessoas qualificadas para ensinar jovens e crianças ou estaremos fadados a mesmice para sempre.


O nosso problema é que cobramos o que não ensinamos, em todos os aspectos. Chamar o jogador de burro é muito fácil, o difícil é ensinar. De burro, jogador não tem nada. Podem não ser cultos, mas burro eu duvido que sejam. Enquanto aqui eles apenas jogam, fora daqui são obrigados a aprender detalhes e processos que ainda não estamos preparados para ensinar. Assim, acredito cada vez mais que a culpa é de quem ensina e não de quem não está aprendendo.


Falando de quem ensina, gostaria que quem conseguiu ler o texto até o final, fizesse uma breve reflexão. Quantos gestores, treinadores profissionais ou de base leram nos últimos 5 anos livros (de qualquer esporte, pois podemos aprender com todos), artigos de futebol ou metodologia de treino? Phil Jackson, Coack K, Pat Sumitt, Pat Riley, Carlos Ancellotti, Mourinho (não escreveu nada até hoje, mas os filósofos já escreveram bastante dele), artigos da Journal of Strength & Conditioning Research e da International Journal of Performance Analysis in Sport? Enfim, o conhecimento para se tornar analista, treinador, músico, economista ou advogado, está todo aí, basta que a gente procure. Precisamos entender cada vez mais que o futebol é apenas um esporte coletivo (equipes e um objetivo), simples assim. Existem obviamente formas bonitas e feias de se jogar e sabemos que se ganha e se perde de todas as formas, agora o que não podemos admitir é a falta de conhecimento.


 
 
 

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