Dois em um - o trabalho do analista-auxiliar técnico.
- Youssef Couto Kanaan
- 14 de nov. de 2016
- 5 min de leitura

Olá amigos, trago a vocês um tema muito pertinente, principalmente em clubes que não apresentam uma estrutura numerosa em sua comissão técnica e seus departamentos. Para falar um pouco sobre a função de Analista de Desempenho e de Auxiliar Técnico trouxe o texto do amigo Youssef Couto Kanaan, tive o prazer de trabalhar com esse profissional de grande competência no Sport Clube
São Paulo, time da primeira divisão do campeonato gaúcho profissional, durante a Série D do Campeonato Brasileiro de 2016. Youssef possui passagens como auxiliar técnico e treinador nas categorias de base do Fragata Futebol Clube, e como analista de desempenho tem passagens pelo futebol profissional do Uberlândia Esporte Clube e Sport Clube São Paulo em 2016.
Dois em um - o trabalho do analista-auxiliar técnico
Recebi o convite do meu amigo e colega de trabalho Túlio Flores para falar sobre a função que venho exercendo nos clubes em que tive a oportunidade de trabalhar: analista-auxiliar.técnico de campo.
Para falar sobre esse tema, vou inicialmente falar dessas funções de forma separada: O Auxiliar técnico de campo e o Analista de desempenho. Rapidamente vou tentar resumir o que é de responsabilidade de cada uma dessas funções.
Independente disso, para qualquer cargo ocupado dentro de uma comissão técnica, o sucesso no desempenho da função está diretamente ligado a um alto grau de afinidade, alinhamento de ideias e pensamentos sobre futebol, e, principalmente, confiança na relação interpessoal com o treinador principal.
O auxiliar técnico está inserido na área técnica e vai, junto com a comissão técnica, ajudar a planejar, organizar e colocar em prática todo o programa de treinos de uma temporada, comandar alguns treinos da equipe principal e, geralmente, dos jogadores ausentes ou que atuaram menos nas partidas, o que exige grande entendimento daquilo que é a ideia de jogo do treinador e também comando sobre o grupo de jogadores, substituir o treinador em situações específicas, auxiliar o treinador na transmissão de informações e orientações nos treinamentos e jogos, sendo que isso é um aspecto importante, pois, dentro de um processo de gestão de pessoas, como é o caso do futebol, deve ficar claro para os envolvidos que o auxiliar está para reforçar as ideias e pensamentos do treinador principal. Sendo assim, o auxiliar precisa ter um conhecimento profundo dos conteúdos e processos do trabalho, capacidade de observação, capacidade crítica, tomada de decisão sob pressão, além de tolerância e ser confiável.

O analista de desempenho também está inserido na área técnica, porém dentro de um setor específico da análise de desempenho que está estruturado em três bases principais: análise da própria equipe, análise do adversário e prospecção de jogadores. Desta forma, cada base tem as suas funções específicas: Análise da própria equipe, consiste em observar e identificar de forma qualitativa e quantitativa se aquilo que foi treinado e proposto para o jogo realmente aconteceu, buscando assim participar e contribuir com informações pertinentes para a construção dos treinamentos e também mostrar e reforçar os pontos positivos e ajustar os pontos negativos; Análise do adversário, consiste em observar e identificar de forma qualitativa e quantitativa os padrões técnico-táticos-físicos-estratégicos do adversário para assim ser possível explorar os seus pontos fracos e neutralizar os seus pontos fortes;
A prospecção de jogadores consiste no monitoramento de outros jogadores para uma possível contratação. No caso dos clubes que ainda não apresentam um setor de análise, é comum algum auxiliar técnico desempenhar está função específica.
Em grandes clubes internacionais, pode-se observar que a condição de trabalho que a comissão técnica dispõe para desenvolver as atividades é, praticamente, completa em todos os setores (da área da saúde até a área técnica): estrutura de alto nível para todos desenvolverem suas obrigações, clubes em dia com as suas finanças e abertos a novas tendências.
Deixo aqui o link do departamento de análise de desempenho do Manchester City:
Entretanto, falando de Brasil, os clubes estão um pouco distantes de apresentarem características semelhantes, em virtude de uma série de fatores, onde destaco os problemas financeiros, a falta de estrutura e a qualificação dos profissionais envolvidos. Consequentemente, como que os clubes, com problemas financeiros, vão investir altos valores em tecnologia e softwares? Como que esses clubes vão investir em recursos humano para suprir todas as obrigações de um setor específico? Como que esses clubes vão manter todos esses setores ativos? Obviamente que as prioridades serão outras e então busca-se formas alternativas de se alcançar (quase) o mesmo objetivo.
Por aqui, a realidade é que a comissão técnica (específica da área técnica) é reduzida. Nos clubes pequenos (que são a maioria) e na base a comissão é formada pelo treinador, preparador físico, preparador de goleiros e, em alguns casos, auxiliar técnico e/ou analista de desempenho, onde na maioria das vezes, o analista é uma sugestão ou imposição do treinador da equipe. Em clubes médios e grandes se adicionam auxiliares técnico, físico e de goleiros e, normalmente, mais um ou dois analistas de desempenho.
Dito isto, vocês devem estar se perguntando como uma pessoa trabalhando sozinha consegue cumprir com todas as obrigações que as duas funções exigem? Primeiramente, é de extrema importância conhecer e entender na totalidade as duas funções, pois o nosso trabalho vai depender exclusivamente das necessidades do treinador e da comissão técnica. Como visto anteriormente, o analista pode trabalhar em três bases, mas quem vai decidir o foco principal é o comandante da equipe, de acordo com aquilo que ele acredita ser o mais importante. Então, alguns treinadores vão focar nas correções da própria equipe, outros nos adversários, outros ainda vão buscar a prospecção de jogadores como foco principal, e nós temos que estar preparados para atuar de forma qualificada em qualquer uma dessas áreas. O trabalho de auxiliar no campo, inicialmente, vai depender da absorção e do entendimento que teremos das ideias de jogo do treinador. Se já temos uma afinidade com o mesmo, fica mais fácil a atuação direta nos treinamentos. Por outro lado, se não existe conhecimento prévio daquilo que são as ideias de jogo do comandante, precisamos – de forma rápida e objetiva – observar, estudar, absorver e entender aquilo que o treinador pretende como o jogar da sua equipe, para assim podermos atuar de forma total – corrigindo, cobrando, explicando – nos treinamentos.
Agora a pergunta que deve estar sendo feita é: E a qualidade do trabalho? Obviamente que a qualidade será inversamente proporcional aos deveres e obrigações que teremos e diretamente proporcional à nossa qualificação e entendimento das necessidades do treinador. E para maximizar a qualidade do trabalho, temos que otimizar ao máximo o nosso tempo, desta forma, nada melhor que uma programação prévia de tudo que deve ser feito (a figura abaixo mostra um exemplo de microciclo do departamento de análise de desempenho no Uberlândia EC, onde tive o privilégio de trabalhar no ano de 2016). Outro ponto fundamental: DESCANSAR! Aproveitar as horas de sono, para desligar totalmente do trabalho e assim estar preparado para as jornadas de trabalho.

Considerando tudo que foi exposto, conhecendo um pouco a função de cada cargo dentro de uma comissão técnica e a realidade da maioria dos clubes brasileiros, a junção/unificação dos dois cargos é a maneira/alternativa que os treinadores/gerentes de futebol encontraram para qualificar o trabalho sem que haja um gasto/investimento que o clube não tem condições de fazer. Acredito que este seja o primeiro e importante passo para a inserção do departamento de análise dentro dos pequenos clubes. Por fim, a qualificação de TODOS envolvidos no futebol é o principal para que o nosso futebol evolua e se desenvolva em todos os aspectos e dimensões.

Por fim, quero agradecer mais uma vez o espaço para colocar as minhas ideias. Precisamos de mais discussões em todas as áreas do futebol. Agradecer também ao Lucas Petter, amigo que o futebol me deu, e ao amigo Yuri Salenave, auxiliar técnico do juniores do Joinville pelas considerações e sugestões ao texto.
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